16 de junho de 1944, Saint-Didier-de-Formans (França)
Filho de Gustave Bloch (1848-1923), que foi professor de história na Sorbonne, Marc Bloch dirigiu, a partir de 1919, as conferências sobre Idade Média na Faculdade de Strasbourg. Em 1936 passou a lecionar história econômica na Sorbonne.
Durante a ocupação nazista, Marc Bloch entrou para a Resistência francesa e fez parte do comitê diretor do órgão Franc-tireur (Franco-atirador). Preso pelos nazistas, foi fuzilado perto de Lyon.
Ciência das sociedades humanasInteressado em questões econômicas e sociais, Marc Bloch funda, em 1929, com Lucien Febvre, os Annales d'Histoire Économique et Sociale(Anais de História Econômica e Social), de importante papel na difusão daqueles estudos.
Especialista em história medieval, Bloch distingue-se ainda como conhecedor da história das populações rurais. Durante cerca de dez anos, de 1929 a 1938, sua maior atividade concentra-se na divulgação dos Annales, que publica alguns de seus notáveis artigos, como "O problema do ouro na Idade Média" e "Aparecimento e conquista do moinho d'água".
Em seus artigos, talvez mais do que nos livros, Marc Bloch revela seu conceito de história. Duas expressões por ele amplamente usadas podem resumir esse conceito: "síntese" e "história comparada" (ou "comparativa"). Para ele é impossível a um historiador ignorar, por exemplo, os ensinamentos dos psicólogos, da mesma forma que estes não podem desconhecer os ensinamentos históricos.
A história comparativa é a reunião da história com disciplinas contíguas, num intercâmbio de serviços, abrangendo os mais variados setores, como sejam a toponímia, geografia, sociologia, psicologia ou economia política.
Para Bloch a história não é o acúmulo de todos os tipos de acontecimentos que sucederam no passado, mas a ciência das sociedades humanas.
O primeiro livro de Bloch, Os reis taumaturgos, é obra de grande originalidade, estudo ao mesmo tempo histórico, sociológico e de psicologia social. Sua obra geralmente considerada mais importante, Os caracteres originais da história rural francesa, baseia-se no exame dos tipos de campos e na interpretação da paisagem rural. Deu origem a uma série de livros de geógrafos e historiadores.
A sociedade feudal, último livro publicado pelo historiador, reexamina e reclassifica inúmeros de seus estudos, oferecendo novo conceito de história.
Marc Bloch tem um vigor necessário para todo historiador, pois discute o ofício em suas minúcias; faz apologia da história, e escreveu sobre esse tema enquanto lutava pela Resistência Francesa (Lion), e enquanto era torturado pela Gestapo.
Fundou a escola e revista dos Annales ou a Nova História, em parcerias com outros historiadores, em 1929; e mesmo sendo um medievalista, nunca se absteve de participar de seu tempo, por isso deixou os manuscritos de seu ofício sobre o nosso ofício e a história como ciência.
O medievalista Jacques Le Goff ressaltou o lado apocalíptico de Bloch – inerente a geração vivida, acolhida em memória coletiva, e de valor histórico. Para sê-lo – Marc Bloch - foi preciso ser carnívoro, andarilho… portanto, o historiador que escreveu Apologia da História (inacabado) reverteu-se em um ato completo de história (In: Apologia da história, p. 34); livro este, publicado postumamente por seu parceiro dos Annales, e também historiador, Lucien Febvre, em 1949.
Bloch foi daqueles a quem se diz aos homens pasmos do presente, o ´porque ´de serem ignorantes de seu passado. Perceber o recente, o presente como pensamento crítico via passado.
O conhecimento é incessante, transformador, e por isso rasga na escrita, abrenovas trincheiras, arranca as entranhas com as próprias mãos. A pesquisa histórica reúne pedaços, lastros, escombros; consegue ler, ver, reler, criticar, analisar, avaliar para colocar na escrita, para falar aos doutos e aos estudantes.
"O objetivo da História é por natureza o homem." (Marc Bloch)