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Michel de Montaigne

1533, Castelo de Montaigne, Dordonha, França
13/9/1592, Bordeaux, França

Michel Eyquem nasceu em dia não sabido no Castelo de Montaigne, de propriedade de seu pai, na Dordonha (França). Adotou o nome da propriedade ao herdá-la em 1568. Sua mãe descendia de judeus portugueses. Michel de Montaigne foi educado em latim e sempre dedicou interesse às letras, passando, porém, progressivamente, da poesia à história. Também se interessava pelos relatos de viagem e teve oportunidade de encontrar um índio sul-americano conduzido à Europa, que lhe inspiraria o magnífico capítulo 31 do Livro 1 dos seus "Ensaios": "Dos Canibais", onde demonstra com grande eficácia sua crítica dos preconceitos e do etnocentrismo (em plena época da guerra das religiões).

Conselheiro do Parlamento de Bordeaux de 1557 a 1570, Montaigne aí conheceu o poeta e pensador Étienne de La Boétie. Tornou-se seu amigo até a morte precoce de La Boétie, em 1563, aos 33 anos.

Em 1574, após a Noite de São Bartolomeu - massacre de protestantes por católicos em Paris - Montaigne fez no Parlamento de Bordeaux um discurso notável em prol da tolerância religiosa, e conclamando todos a evitar a violência e estabelecer a ordem pela força da palavra e das idéias.

Aos 32 anos, em 1565, ele havia se casado com Françoise de la Chassaigne, onze anos mais jovem que ele. Teve com ela seis filhos, dos quais apenas uma menina, Leonor sobreviveu.

Condecorado em 1571 pelo rei Henrique 3o com a ordem de Saint-Michel e nomeado Cavalheiro ordinário da Câmara do rei, também foi honrado por Henrique 4o em 1577 com o título de Cavaleiro de sua Câmara. Elegeu-se prefeito de Bordeaux e exerceu o cargo entre 1580 e 1581.

Ao fim de sua vida, preferiu tornar-se um simples observador da vida pública. Tendo começado a escrever em 1572, publicou os dois primeiros volumes de "Ensaios" em 1580, mas a eles acrescentou um terceiro volume e diversas modificações em 1588 e neles trabalhando ainda em 1592, seu último ano de vida.

Montaigne fez de si mesmo seu grande objeto de estudo, mas, estudando a si mesmo, estudava na verdade o ser humano. Segundo um estudioso, "Montaigne se descobriu escrevendo os 'Ensaios' e seu livro o fez ao mesmo tempo em que ele fazia seu livro".

O período histórico da Renascença estava em sua última fase quando o escritor francês Michel de Montaigne (1533-1592) chegou à vida adulta. O otimismo e a confiança nas possibilidades humanas já não eram os mesmos e a Europa se desestabilizava em conseqüência dos conflitos entre católicos e protestantes. Esse ambiente refletiu-se na produção do filósofo, marcada pela dúvida e pelo ceticismo. Seus Ensaios são leitura de cabeceira de um grande número de intelectuais contemporâneos, entre eles Claude Lévi-Strauss, Edgar Morin e Harold Bloom.

A obra, originalmente em três volumes, é, a rigor, a única de Montaigne – mais alguns escritos pessoais foram publicados depois de sua morte – e inaugurou um gênero literário. A palavra "ensaio" passou desde então a designar textos em torno de um assunto que vai sendo explorado por meio de tentativas (esse é o significado da palavra essais em francês), mas sem rigores de método. Muitas vezes, não chegam a nenhuma conclusão definitiva, mas convidam o leitor a considerar alguns pontos de vista. No caso de Montaigne, o gênero serve à perfeição ao propósito de contestar certezas absolutas.

Dois dos Ensaios tratam especificamente de educação: Do Pedantismo e Da Educação das Crianças. Neles está claro que o autor pertencia a uma classe emergente, a burguesia, e que se rebelava contra certos padrões de erudição e exibicionismo intelectual ligados à aristocracia. Montaigne assumia também o papel de crítico tanto dos excessos de abstração da filosofia escolástica da Idade Média – que ainda sobrevivia nas universidades – quanto da cultura livresca do humanismo renascentista.

Essas circunstâncias históricas não necessariamente limitam os argumentos do autor, que foi o primeiro a falar numa "cabeça bem-feita" (expressão que Morin escolheu para título de um de seus livros) como objetivo do ensino, em detrimento de uma "cabeça cheia". "Trabalhamos apenas para encher a memória, deixando o entendimento e a consciência vazias", escreveu. Saber articular conhecimentos, tirar conclusões, acostumar-se à aquisição e ao uso da informação – todas essas questões tão problematizadas pelos teóricos da educação de hoje em dia estão no cerne das preocupações de Montaigne. "Para ele, a verdadeira formação residia em saber procurar, duvidar, investigar e exercitar o que é inteiramente próprio de cada pessoa", diz Maria Cristina Theobaldo, professora da Universidade Federal de Mato Grosso.